segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Milagre



Sentada a escrever, ela se vê com muitas inspirações para histórias, mas possui poucas ideias concretas. Em um lugar muito gelado, ela passa boa parte do seu dia investindo nos sonhos de sintetizar pensamentos e de conseguir manifestar coisas que tenham o poder de emocionar alguém. Desde sua infância, amava sorrir após uma catarse.

Ela tenta produzir e quase nenhuma frase chega ao papel. Anoitece e o caderno ainda está praticamente limpo. Ela se frustra e vai dormir. Alguns minutos depois de ela adormecer, uma chuva se anuncia. A noite começa a adquirir uma atmosfera pesada, quando ela escuta relâmpagos e trovões pairando sobre o ambiente. Não acontece nada de absurdo, mas ela sente que aquilo não está sendo um acontecimento normal.

Ela fica curiosa e resolve sair de casa para ver como estão as coisas lá fora. Corre até o semáforo mais próximo e não enxerga nenhum carro por perto. A rua parece muito estranha, totalmente vazia. Escuta um som assustador e decide imediatamente voltar para casa. Começa a correr de maneira desesperada, como se o pior momento de sua vida estivesse prestes a ocorrer.

As geleiras dos arredores começam a quebrar-se lentamente, e a sensação térmica fica indescritivelmente fria. A neve do chão parece querer sugá-lo. É inacreditável. A maioria dos locais congela. Toda a paisagem vira gelo, águas e pedras. À medida que ela corre na crença de que algo vai mudar,  o que sobra se quebra em pedacinhos. O chão fica caótico.

Tudo está tão lindamente quebrado que, mesmo apavorada, seus olhos brilham.. A cidade está vestida de azul... Algo que parece um espírito entra nela e parece querer remover sua força. Ela grita, porém não há ninguém por perto. Sua alma de artista periga sair de seu corpo, e sua força de vontade se reduz.

Faz movimentos bizarros, parecidos com uma reação a rituais de exorcismo e vomita coisas que não parecem nada com o que ela já tenha ingerido. Desmaia no chão e permanece nele por quase dez minutos. Foi pouco tempo, mas a intensidade do momento fez parecer que aqueles seriam seus últimos instantes respirando. Levantou, começou a tentar andar e derramou uma lágrima. Quando isso aconteceu, todos os lugares se descongelaram e o céu voltou a ficar estrelado. A noite mais fatídica terminou numa madrugada muito linda. Era essa hora de olhar para o infinito e acreditar que um milagre aconteceu.

Zeca Lemos


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