quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Nova era



Saio de casa após tomar o café da manhã rapidamente e vou ao aeroporto. De lá partirá o avião que irá levar-me a Romênia, país onde meu pai mora. Passei alguns anos sem visitá-lo, mas, nesse natal, senti que tinha essa obrigação. A cidade em que ele vive parece meio esquisita. É uma vila no norte, tão pequena que quase não dá para encontrá-la no mapa.

A viagem é longa, são quase seis horas na estrada até a capital Bucareste, onde havia comprado passagem num ônibus para o meu local de destino. O avião pousou e percebi que o clima do país é bem diferente daquele que estou acostumado. As pessoas parecem assustadas com alguma coisa, como se existisse um perigo iminente por perto.

O saguão está com uma movimentação intensa. Parece loucura, mas penso que aqueles indivíduos estão ali ansiosos a fim de fugir para outro local. A atmosfera carrega uma tristeza medonha, os olhos das crianças são tão inexpressivos como esferas de vidro.

Desembarco e vou procurar o ônibus. Está um pouco distante, mas consigo encontrá-lo. Coloco meus pertences no porta-malas e sigo rumo à cidade em que meu pai reside. A distância não é grande, mas a estrada traz algumas dificuldades. Não há iluminação em praticamente nenhum trecho dela.

Sinto como se houvesse pedras no meu estômago e estou prestes a vomitar. O ar noturno fica frio e não sei o que fazer. Quando chego a casa, deparo com um casarão antigo. Há pichações em tintas escuras nas paredes. Escuto algo vindo do telhado e subo para descobrir o que é. O chão áspero rala meu joelho e imagino que minha vida está a alguns minutos do fim.

Nesse momento, tudo passa pela minha cabeça; as infinitas possibilidades de tudo dar errado, as chances de eu estar construindo arrependimentos futuros e os machucados que ficariam indeléveis na minha memória. O céu vai ficando mais claro e minha perna parece formigar. A intuição me diz que posso vencer aquilo e sair dali. Resolvo olhar para o meu interior e vejo os demônios que estiveram presentes nos meus pesadelos de infância. Deixo meu lado desequilibrado ficar vivo e me desestruturo rapidamente. Desabo no chão e meu coração comemora o extermínio dos parasitas mais indigestos com o nascimento de uma nova era

Zeca Lemos



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