quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Quase imperceptíveis riquezas



Chego à minha casa depois de um longo dia, sinto vontade de quebrar algo ou agredir alguém. Parece que nada é mais capaz de diminuir a profundidade da minha angústia. É comum sentir indignação frente a esse mundo hostil, porém não dessa forma. O que estou sentindo vai além do extremo dos sentimentos de um ser humano.

Nem mesmo escrever pode expressar o que se passa lá dentro. É um momento de neutralidade medonha, é como se meu coração não estivesse batendo mais, simplesmente não sinto nada. De tantas palavras do dicionário, alguma deve conseguir sintetizar isso, mas eu não consigo encontrá-la.
Por algumas horas sinto que ainda estou no universo, sem que ele não esteja mais em mim. Não sei exatamente o que aconteceu, mas parece que a minha alma saiu do meu corpo; creio que ela esteja habitando melhor outro alguém.

Depois de passar tempos nessas eternidades, o silêncio é quebrado pela vibração de meu celular. Logo imagino que é algum informe inútil para irritar-me. E vejo que minha previsão estava correta, pego o aparelho e olho a mensagem que chegou, era de uma menina que eu não conhecia muito bem, mas admirava bastante.

Leio devagar, buscando prestar atenção nos mínimos detalhes, pois a mensagem chamou a minha atenção. É simples, mas ao mesmo tempo tão linda! Se existia alguma tristeza em mim, terminou ali. Se eu queria poder voltar a sentir intensamente, pude desfrutar desse prazer da maneira mais completa.

Ela nunca terá noção do que aquilo representou para mim naquele dia, levando-me do marasmo à felicidade em questão de minutos. Uma simples mensagem de celular; teoricamente algo que qualquer um poderia ter escrito, para mim representou a salvação de uma semana monótona. Tamanha a veracidade de tal conteúdo, minha simpatia pela menina aumentou sem retorno.

São atitudes como essa que ainda me estimulam a sorrir. Afinal, numa sociedade que diamantes são mais valiosos que vidas, pessoas que se importam em confortar o outro, fazendo-o feliz, se sobressaem para aqueles que enxergam as riquezas interiores.


Zeca Lemos




segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sentir





Isolar-se em reflexão nos momentos inoportunos é atitude de quem é  introspectivo. Pessoas assim sofrem bastante, mas se conhecem muito bem.

Essas questões são complexas, pois envolvem uma série de outras coisas, como a forma como se sentem as coisas e as dimensões que dão às situações. Afinal, é óbvio dizer que os acontecimentos não têm uma importância definida, pois é o ser humano que escolhe o quanto ela significa para ele.

O pior mal que uma pessoa pode ter é a incapacidade de sentir; ninguém tem brilho sem conhecer o fosco da vida. Bem aventurados são aqueles que sentem tudo o que vivem, pois as experiências que ficam lá dentro ninguém pode extrair. Feliz é aquele que já chorou e riu, pois descobriu o sentido das emoções.

Não existe coisa mais triste do que um pobre de espírito, sem sensações para alimentar sua alma. E esse é o maior vazio que alguém pode ter, pois é como estar vivendo morto sem ninguém saber. Infelizmente, não existe remédio para isso.

Ironicamente, mesmo a sensibilidade sendo um elemento chave na manutenção da vida, o ser humano procura bloqueá-la. Quem nunca sentiu vontade de fugir das derrotas? Quem nunca pediu para que o amanhã não chegasse?

Por que o ser humano evita tanto a dor? Por que chorar é uma ação tão negativa? Por que perder é visto como sinônimo de fracassar? Por que memórias de tristeza são interpretadas como algo péssimo? O desconhecido pode, sim, assustar, mas é necessário para a formação. Se não viverem essas fases de sombras, como os indivíduos vão crescer e evoluir? Como vão se conhecer e saber do que são capazes? Todo mundo precisa provar das derrotas para viver.

O processo civilizatório humano teve (e ainda tem) esse problema, e isso não é simples de lidar. Para ser uma exceção nesse mundo, tem-se que ter bastante força e autenticidade a fim de sentir as coisas a fundo e fazer a diferença.









Zeca Lemos