sábado, 24 de outubro de 2015

Apenas destroços



O sangue começa a jorrar pela sala. Fico sem entender como aquilo aconteceu. Parece um escândalo de múltiplas facetas. Já é noite e quase nada mais está iluminado. As coisas não são mais simples de se executar como outrora. Qualquer ideia que chega à mente se desenha como algo idealizado e profundamente complicado. Um dia que tinha sido cheio de sol agora se mostra triste, traduzindo a melancolia da noite terrível em que recordei decisões não processadas no momento ideal.

Não adianta mais fazer o que sonhei realizar. O luar vai acabando, e a alma não se satisfaz com a paisagem racional. O que me aflige é algo tão absurdamente pequeno que me sinto nulo. Parece que estou voltando a ter sentimentos de criança, como se coisas minúsculas fossem motivo para chorar e desejar nunca ter nascido. Fico no portão da casa do menino que fui, esperando-o chegar para fazer uma surpresa. O anoitecer fica próximo, e eu me rendo à magia do céu. Ele se mostra tão bonito e infinito! Enxergo algumas estrelas e imagino o que elas podem representar. O que fica é aquela agonia de não conseguir saber se ainda existo.

Deixo algumas portas fechadas e não me preocupo com o que se processa lá dentro. Percebo que quase tudo na minha vida acaba em escrita. A maioria das coisas que penso, reflito ou vivo termina em algum texto. Cada um com suas características, mantendo traços de loucura e sujeira. Alguns curtos, outros longos. Busco lê-los depois de alguns anos de sua publicação. Gosto de ver como meus olhares se estendem e reagem aos escritos dos anos que nunca mais voltarão.

É difícil definir o que essas produções realmente são. Talvez se possa chamar isso de mergulho na arte. Mesmo vendo que não chegam perto da beleza de outras manifestações, tento acreditar que minhas frases podem emocionar alguém. Provocar um surto de alegria em um dia de sol e ensinar a esquecer das pequenas mortes que sofremos diariamente seria a minha maior felicidade. Apenas destroços, roubando emoções dos corações.

Zeca lemos