sábado, 19 de março de 2016

Está nas lembranças

Durante um bom tempo, ele tentou ser misterioso, daqueles que têm muitas faces e ninguém se sente pleno conhecedor. Quase todo dia, fazia alguma coisa que surpreendia as pessoas ao seu redor. Apesar de não pensar muito sobre isso, sentia gostar da impressão que emanava. Era incrível, ele podia ser qualquer coisa. No cinema, na faculdade, em casa... Todos os lugares que frequentava recebiam uma personalidade exclusiva.

Ele tinha mente de historiador. Todos deviam ver o que refletia para decidir suas ações. Quando se falava de história, as pessoas costumavam pensam em uma matéria estudada na escola ou na narração de algum acontecimento. Ele via sua vida como uma mistura dessas "histórias". Tentava imaginá-la como uma sequência de episódios descrito em um livro para alguém ler, interpretar e estudar aquilo como se fosse uma ciência.

Possuía costume de contextualizar todas as lembranças. Não gostava de profissionais que anotavam as informações para depois repassá-las. Se não havia esforço ao lembrar das narrativas, não havia paixão nas memórias. Além de livros históricos, deliciava-se com os jornais impressos; era inacreditável o carinho que nutria ao guardar algumas edições. Cada manchete se eternizava nos cantos do quarto para serem relidas após alguns anos. Como os livros de histórias, os noticiários também o apaixonavam. Se aquelas coisas aconteciam no presente, no futuro alguém estaria estudando querer ter vivido.

Na sua alma, o jornalismo e a história caminhavam como irmãos, porque o imediatismo de informar se fundia com as conjecturas de como seria explicar aquelas notícias depois de algumas décadas. Não importava se as circunstâncias não favoreciam, a curiosidade pelo desconhecido o fazia um leitor voraz. Com todas essas paixões, ele encontrou na escrita a sua melhor amiga: a lembrança. Se algo o fazia mal, a poesia das suas recordações estaria sempre lá para combater seus pensamentos suicidas.