terça-feira, 19 de maio de 2015

Conquista

 

De vez em quando existe alguma coisa que pode tornar meu cotidiano o mais interessante. Um momento, um olhar, um semblante... Algo que seja capaz de prender meu coração por uma fração de segundos.

Tinha sido até agora uma semana comum, pacata e até um pouco chata, o máximo que havia acontecido tinha sido uma "festa surpresa" para um amigo. Então, uns dias depois do evento iria ser o aniversário de uma jovem que me ensinara muito nos últimos anos, mesmo sem me conhecer. Poucos detalhes a respeito dela eram conhecidos, só sabia que ela estaria fazendo quinze anos e que certamente estaria rodeada de amigas.

Não gostava de trabalhar com a sorte, mas aquele seria o único caminho de alguma esperança. A solução seria vê-la durante o intervalo, apesar de não saber onde ela exatamente estaria. Pois bem, até o intervalo se iniciar, só o que existiu foi ansiedade.

Quando o recreio começou, fui procurá-la. Durante os dez primeiros minutos, o sonho pareceu impossível. Não se via rastro dela nem de ninguém que pudesse trazer informações a respeito. Quando um amigo meu chegou disposto a me ajudar na busca, as coisas começaram a parecer que iam melhorar.

Fomos até a outra extremidade do corredor. A busca parecia inútil, quando paramos pra esperar o que ia acontecer. Ela passou rapidamente com uma amiga em direção a uma escada próxima. Olhei para ela e fui correspondido. A troca de olhares durou alguns segundos e foi um tanto misteriosa. Ela pareceu querer sorrir, mas não chegou a fazer o movimento completo. O jogo que tinha sido empatado voltou a sua inicial forma por alguns segundos, convertendo-se numa derrota.

Um outro amigo, na verdade o meu melhor, chegou dizendo onde ela estava, demonstrando querer ver o sonho continuar. Subi com eles ao local e a vi a alguns metros de mim, nunca havia estado tão perto daquela emoção. Então, fui atrás do que sonhei a noite inteira. Cheguei bem perto dela, próximo a um palco numa quadra. Cerca de dez minutos iriam definir se meu paraíso se tornaria real ou não.

O tempo passava e eu permanecia calado a contemplar a cena. Ela estava rodeada de amigas, de vez em quando tirando fotos em uma máquina diferente das convencionais. Os minutos voavam e eu não conseguia fazer nada. Sabia que a situação era delicada, o que acontecesse ali ficaria escrito para o futuro, tinha consciência de que teria que conviver com a infinita cadeia de consequências que fossem geradas. Nunca tinha pensado como era tão difícil fazer uma escolha e conviver com o que resultaria dela.

Foi muita coisa que borbulhou dentro de mim, mas driblei tudo e fui lá. Fiz como se fosse correr, segurei meu coração e cheguei a ela. Perguntei-lhe se era realmente seu aniversário e ela sorriu. Abracei-a e conversei com ela por volta de cinco, seis ou sete minutos. Nossa, que conquista foi aquela! Minha alma foi lapidada pela atmosfera do momento; saiu e voltou a habitar meu corpo revigorada. Tinha ido até onde o meu limite não permitia, esgotei todas as minhas reservas. Até agora não descobri como permaneci em pé. Não, não fiquei emocionado, não há nome para o que senti! Era , talvez, como imagino que o um personagem de anime se sinta, depois de vencer uma batalha após lutar durante inúmeros episódios.

Finalmente, aprendi o que de fato é felicidade. Não é quando comemoro algo impetuosamente; é quando o sentimento tem amplitude tamanha para me deixar minha alma muda. Exatamente como estava, sem conseguir descrever o que tinha conquistado. Várias pessoas me questionaram sobre o assunto, mas eu não consegui dizer mais que uma frase completa. Poderia passar o resto da minha vida reprisando aquela cena que teria repertórios para milênios.

Zeca Lemos