domingo, 23 de agosto de 2015

Bifurcação


Estava faltando vontade e inspiração, algo que eu buscava encontrar a qualquer custo. Tempo de mais um momento decisivo, mas sem atmosfera de importância real. Não sabia o que fazer. As horas iam passando e prevendo que ia ser algo bonito, mas isso não se transformava em sentimento.

Não tinha feito nada, mas isso tudo isso o deixava cansado, como se a noite tivesse sido um grande pesadelo. Os minutos passavam de maneira pulsante, querendo mostrar um rumo para seguir. Não daria para imaginar o que poderia acontecer. Era tão vazio que chegava a ser intenso. Ia começar o acontecimento e então sua alma apertou, como se seu espaço fosse reduzido a um grão de areia.

Havia alguns meses que ele tinha escolhido fazer aquilo. Iniciou, e uma bifurcação se cravou num lugar inusitado. Parecia um destino, mas de perto se percebia que estava mais próximo de uma pergunta. Alguns fragmentos entraram em choque. Tinha sonhado com algumas coisas da noite passada, mas de manhã tudo se apagou. 

As imagens da noite voltaram iguais, apenas de maneira distinta. Todas as fotografias se tornaram estranhas, como se as coisas não mudassem, só permanecessem estáticas, ecoando numa eternidade que o fazia olhar para o céu. O vulcão estava em erupção, mas as lavas não se espalhavam.

Foram alguns minutos de energias marcantes numa região periférica do corpo. Cada segundo representava o avanço de uma dor que prometia ser despejada em um som misteriosamente silencioso. Quando enfim tudo o que era sentimento se mostrou pronto para sair livre no ar, seu ventre se comprimiu e formou um frio mortífero.

Seria impossível prosseguir, não conseguia ter um pensamento formado, só o que havia eram letras misturadas sem sequência. Não sabia que o tinha parado, era certo que aquilo lhe renderia anos de choro e angústia. Gastou além do que tinha e fez o que devia. Era espantoso o desafio dele consigo mesmo, seu espírito brilhava demais. Terminou sem conseguir dar um sussurro, tudo tinha acontecido, mas como ninguém sabia. As pontas da história que ficaram soltas foram infinitas. Passaram-se algumas horas e só lhe veio uma emoção sobre o escândalo: se sonho algo bonito, purifico meu espírito; se faço algo bonito, purifico minha vida.

Zeca Lemos