segunda-feira, 4 de abril de 2016

Preso no sonho

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Um dos prazeres que alguém pode ter é interpretar um sonho, lembrando de cada detalhe. Eu, naquela época, não gostava de falar sobre isso. Era um assunto que me frustrava muito. Todo dia era da mesma forma: sonhava algo interessante e acordava atordoado com o que tinha havido. Antes que pudesse refletir acerca do tema do sonho e analisar o que poderia ter representado, esquecia da maior parte das cenas. Depois de algumas horas, já não lembrava nada, e era como se aquilo tivesse sido uma alucinação.

Eu não conseguia aceitar a minha falta de memória onírica, pois pensava que, se meu subconsciente tinha feito um filme, eu precisava assisti-lo. A minha mente recuperava muitas informações inúteis, mas nunca os acontecimentos dos meus sonhos. Então, um dia, acordei cansado após uma noite mal dormida e resolvi dormir um pouco à tarde. Aquele momento foi diferente, não me lembro nunca de ter estado alguma vez tão fora do mundo.

Sonhei com uma menina que eu conhecia. Minha relação com ela era confusa. Uma vez, brigamos por causa de um motivo infantil. Tempos depois, vi-a estranha e a chamei para conversar. Foi surpreendente. À medida que ela ia falando, eu ficava estarrecido pensando em como o destino aprontava: a menina chata se transformou numa companhia agradável, que só me dava alegria.

         Naquele sonho, eu a encontrava em um lugar desconhecido. Ela começava a falar um pouco e as coisas tomavam um rumo imprevisível. Nós revelamos informações inacreditáveis e ela disse uma coisa que pareceu real. Não consigo lembrar-me das palavras, mas era algo parecido com "gosto de você", pronunciando o meu nome. Quando menos esperava, estava no mais bonito dos momentos. De repente, ela sumiu numa viela qualquer que eu nunca havia visto.

Impossível lembrar se era dia ou noite, verão ou inverno; para mim, aquilo era o melhor que o acaso poderia me dar. Pensava que nunca sentiria isso, todas aquelas frases românticas se encaixavam. Naquela hora, o melhor lugar do universo era perto dela, sentindo o olhar dela, derretendo-me pelo sorriso dela e escutando a voz dela. Quando acordei, fiquei durante alguns minutos boquiaberto e fui ao banheiro. Olhando-me no espelho, vi a minha face mudada. Parecia que anos tinham passado e que eu não me conhecia. Só queria voltar para o acontecimento e desenhar os olhos dela como se fossem estrelas. Eu tinha acordado, mas a minha alma tinha ficado presa no sonho. Terminei por criar um mundo mágico inalcançável, porque o meu real era trágico e feito somente de desencontros.

Zeca Lemos