sábado, 14 de novembro de 2015

Noção de tempo



Figura numa lista que todo ano cresce. Aquele tipo de sistemática que faz a lógica ficar totalmente de lado. Momentos que não entende, que o fazem retornar aos tempos em que chorar era uma ação diária. Como uma criança engatinhando na direção da mãe, deixando transparecer o medo, a desesperança, a crença de que nada vai melhorar.

Sonhos existem para serem transformados em arte de alguma maneira, provocando reações de emoção, não necessariamente para serem realizados. Existe, porém, aquele costume que todos gostam de ter, o de acreditar que se pode conquistar o que o sentimento não deixa morrer. Uma música, um texto, um filme, uma interpretação. A lembrança do quão doloroso foi um dia em que as lágrimas foram insuficientes para esvaziar toda a tristeza e que nada se mostrou banal diante da beleza que uma voz gerou ao pronunciar algumas palavras. Não, ele nunca vai se esquecer dos timbres que o fizeram morrer de felicidade.

É um calor tão intenso que o corpo não tem capacidade de sentir. Passam os anos que nunca mais voltarão, e os fracassos vão sendo escritos, recriados e aperfeiçoados, sendo o verbo sofrer de  uma conjugação interminável. A mágoa e a decepção se repetem todo dia em uma nova fita. Quase como uma prisão, tenta enxergar uma fagulha de fé. Almeja ver algo bonito, um negócio infinito, sem que nada mais traga felicidade. Tudo se somatiza e se mistura: o vermelho do sangue, a transparência das lágrimas e o preto da ausência de vida.

O pensamento continua a duvidar, e ele não desiste de acreditar que um dia vai poder navegar por quaisquer águas que escolher. Quer olhar para o alto e não ter medo de tropeçar, com uma vontade de gritar infinita. Sente-se fora de ambientes que frequenta. Não sabe dar leveza ao olhar, não consegue desprezar o que ama.

Entretanto, o tempo destrói tudo o que sua mente cultiva. Ama algo, acredita em um fato e logo é desmentido. Apaixona-se pela voz de alguém e sua mente esquece dela. Tenta dialogar com o mundo, compreender essa movimentação, saber por que sua visão não pode ser aceita como normal. Termina gritando porque tudo é removido e eliminado tão cruelmente, como se os sentimentos fossem cíclicos e descartáveis.

Desde sempre, pensou que era diferente, que algo o fazia enxergar o que as outras pessoas não viam. Seus pensamentos o atordoavam, demonstrando que o que ele sentia era difícil de lidar, escrever e conversar. Refletiu que o tempo dos relógios é uma convenção ilusória e irreal. O que definia seu tempo era sua vontade. Não tinha poder de fazer as coisas que amava durarem para sempre, mas podia criar pequenas eternidades. E isso não era escapismo, era como seu coração respondesse ao destino.

Zeca Lemos