terça-feira, 1 de março de 2016

Mar vazio



Eu estava vivendo o cenário de um poema que li quando ainda era um estudante de ensino médio: uma paisagem litorânea bonita. Não como como Copacabana ou Ipanema, mas como uma daquelas praias que pareciam lugares românticos proibidos por serem vazios. Naquele dia, eu encontraria um tio para uma conversa descompromissada sobre algumas novidades que trazia dos últimos anos. Precisava desabafar alguns acontecimentos que me acompanharam na minha estada no sudeste.

Minha vida estava mudando e as coisas vinham ficando mais complicadas. Tinha ido passar um tempo estudando no Rio de Janeiro. Foi difícil, boa parte das minhas noites foi na companhia de pensamentos, devaneios e filmes; de vez em quando, eu ia vasculhar os postos de gasolina em busca das cervejas que pudessem me deixar no estado mais triste que um homem jovem pode ficar.

Era muito estranho, eu pensava por horas e não chegava a nenhum fato concreto. Durante a minha adolescência, o assunto que mais gostava de conversar era solidão. Ficava irritado quando alguém tratava estar sozinho como um assunto bobo. A solidão sempre foi minha colega; mesmo quando pensava que estava acompanhado, ela se fazia presente nos minhas reflexões.

Em alguns dias, houve problemas com o vazamento do prédio em que morava e eu fiquei com medo. Quando escolhi passar temporadas fora de casa, pensei que algumas ligações fossem suficientes para não me sentir agoniado com a distância; estava errado. Toda noite, eu lembrava da voz da minha mãe e dos gritos que a minha irmã dava em casa. Tinha uma data prevista de volta (3 anos), mas, por algum motivo, pensava que até lá eu não existiria mais.

As coisas tinham que mudar e eu sabia disso. O encontro com meu tio na praia seria o divisor de águas que me faria decidir como viveria nos próximos meses. Eu precisava sentir alguém da família perto de mim e ver se conseguiria aguentar ficar só durante mais algum tempo. Ele chegou atrasado, fiquei 20 minutos andando pelos lados do mar até que tivesse um vislumbre do homem que conversou comigo nas noites que chorei quando meu time perdeu.

Ele chegou e se mostrou um pouco amargurado. Eu estava com necessidade de colocar minhas impurezas para fora, mas ele pareceu precisar mais. Perguntei o que tinha acontecido e ele falou algumas coisas que tinham havido por Fortaleza durante o período que eu estivera morando fora. Fiquei um pouco triste, mas satisfeito por parecer melhor depois de contar. Quando eu ia dissertar sobre as minhas noites de solidão em terras cariocas, a vontade desapareceu. Comecei a correr pela orla  e ele me seguiu rindo como fazia quando brincava comigo quando eu era criança. Em todas as oportunidades que queria conversar eu deixava o lugar carregado de tristeza e marcado por lágrimas. Mas naquele dia o mar da solidão dos fluminenses se tornou o símbolo de todas minhas memórias revividas com uma pessoas que tinha me feito renascer.

Zeca Lemos