sábado, 19 de setembro de 2015

Estética avermelhada

Analisar essa jovem era uma tarefa difícil para qualquer pessoa. Seus pensamentos e suas vontades eram coisas que indivíduo algum conseguiria ler de maneira adequada. Sempre imaginava que, com vontade, podia fazer qualquer negócio que quisesse. O tempo a tinha moldado, ensinando a perder desde as quedas mais dilacerantes até levantar-se quantas vezes fossem necessárias.

Tudo o que lhe dizia respeito de algum modo se relacionava à música. Sempre interpretava as situações como ocasiões em que houvesse grades. Era tudo um pesadelo, seu mundo resultava de uma série de prisões, porém não aceitava essas circunstâncias. Se as grades existiam, deveriam ser quebradas. Se havia alguma prisão, logo se esforçava para sair dela.

Fazia da sua mente um jardim fértil. Plantava ideias nele para serem detalhadamente formadas como esboço de uma poesia. O tempo trabalhava livremente e, quando ficava preparada, a música surgia. Aparecia sorrateiramente para deixar aflorar todos aqueles sentimentos que ficaram aprisionados no lugar mais escuro de sua pequena eternidade.

Era uma colecionadora de passagens que constituíam momentos marcantes, Sua memória trabalhava frequentemente, deliciando-a com as horas que ela sabia que nunca ia esquecer. Todo dia, antes de apagar as luzes do seu coração, repetia para si que tudo mudava e que de alguma maneira ia vencer o que havia de difícil, Era apenas uma questão de etapas. Primeiramente, ela construía o quão belo o sonho da noite seria. Após isso, era tempo de se convencer que algo tão lindo podia ser realidade, até olhar para o céu e sentir que acreditava. Por último, era o momento de conquistar o sonhado, doando o que fosse preciso.

Tudo era simbolizado pela cor que seus olhos tinham fixado. Vermelho. A estética avermelhada significava tudo: sua luta diária, sua vontade infindável, a perspectiva de sonhar sem nunca desistir, a paixão pela vida e pelo sangue que traduzia de uma maneira tão viva o amor. Podia viajar para qualquer lugar, mas seu verdadeiro lar sempre seria sua determinação.

Zeca lemos




domingo, 13 de setembro de 2015

Amantes




Como falar sobre essa história de relacionamento? É bastante contraditório vivenciar o que ninguém tem certeza se de fato existe. Há mais de cinco meses que esse fato vem à tona de forma dúbia e confusa. Os sentimentos jamais deixaram de existir para nenhuma das partes, as palavras expressivas também nunca se mostraram ausentes.

Relacionar-se enche o coração, mas  torna certos temperamentos adversos e cria situações inconvenientes, empecilhos diários. Viver isso é uma forma fascinante de aprender a diferenciar o campo sentimental do espaço físico. Com a parte sentimental, pode-se fazer do nada qualquer coisa, mas o que é físico quase sempre elimina o que se sente lá no fundo.

Personalidades se combatem e se fundem sem saber o que está acontecendo; deixam fluir, fazendo o tempo voar nas asas de um avião. Frases que sobrevoam diariamente campos de destruição com a força de um moinho. Na beira da estrada os dois escrevem mensagens, como se suas almas fossem incorporadas aos seus corações. Parece que novas palavras e substratos de arte precisam ser inventados, porque o que vem à mente não satisfaz.

Os que se amam falam sem pensar e pensam sem falar. Passam noites roendo as unhas, horas sórdidas em um reduto de mensagens, que não dão a sensação do que podem realmente exprimir. Humores distintos e entonações variadas deixam ininteligível a própria história.

Tudo o que há é tão efêmero que paradoxalmente chega a ser eterno. Vivendo, padecendo, morrendo e ressurgindo todos os dias. É a representação do que chamam de imortalidade, pois não existe nada de mais milagroso do que amar alguém que nos ama na mesma intensidade.


Zeca Lemos