quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Significados



Todos os dias ele vinha ao mesmo lugar. Não sabia ao certo onde ficava nem conseguia descrever algumas características da localidade, mas sempre estava lá no fim da tarde para vê-la novamente.

Interessante era a jornada para se chegar até lá. Toda vez era diferente e se dava de maneira inesperada. Andando tranquilamente, o espaço sobrecarregava sua mente e ele sonhava algumas vidas dentro de poucos instantes. Seus pulmões se enchiam de ar e ele se sentia preso numa solitária.

Nem o brilho das estrelas que anunciavam a noite conseguia ofuscar a magia do caminho que ele percorria. Aos poucos, os movimentos do céu absorviam sua racionalidade e o deixavam vulnerável.

Chegando lá, encontrava-a esperando-o afetuosa, e ele se enchia de medo e aflição, mas também felicidade. Era inacreditável como tantos sentimentos podiam habitar apenas dois corações em alguns minutos.

Horas e mais horas com os olhos fixos um no outro, encontravam-se sem força para transmitir o clima agradável. Aquele momento não precisava de um acontecimento vigoroso ou de uma conquista árdua, era infinito por natureza. O cansaço era grande, mas se apequenava diante da grandeza da passagem.

As constelações estavam em silêncio, mas havia um grito ecoando na atmosfera. Ruídos belos e complexos!  Desafiou a ciência e provou que o ar não era incolor. Tantas cores podiam representar aquilo: azul de conquista, vermelho de vigor, verde de esperança, branco de paz, preto de escuridão. Tantos significados condensados de uma forma tão linda! Nem a luz do sol que anunciava o amanhecer era tão espontânea quanto aquilo.

Ao fim de mais um exercício diário, pensava repetidamente o emblemático mantra: sonha para ser auspicioso, luta para ser  varonil, grita para expelir demônios, pensa para unificar visões, enxerga para se apaixonar e acorda para chorar lágrimas ardentes.

Zeca Lemos