sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Atração



Em todo ambiente que se passa, por mais que se não conheça ninguém, sempre existe quem chame especialmente a nossa atenção. Com aquele garoto, esses momentos não eram diferentes. Era regra existir um indivíduo que fazia seus olhos ficarem fixos.

Andando casualmente após a última aula, decidiu parar um pouco seu trajeto para assistir a uma partida de futsal entre meninas na quadra de sua escola.

Era evidente que a maioria ali jogava procurando alguma diversão, mas uma menina se destacava pelo seu jeito diferente. Parecia estar aprimorando alguma arte idiossincrática, embora aquilo fosse apenas um passatempo de intervalo.

Seu toque de bola possuía um charme indefinido e seu domínio enchia os olhos de quem estava atento, mas o que realmente o surpreendeu foram os milhares de semblantes que seu rosto estampavam durante o jogo. Não dá pra descrever o que ela realmente fazia, mas era o bastante para sentimentos agradáveis se apossarem dele durante aqueles momentos.

Seu sorriso chamava muita a atenção. Parecia espontâneo, mas deixava mazelas para uma pessoa cansada, não de correr naquela partida, mas de viver. Era sensacional como sua boca se alargava para representar cada emoção.

Não tinha crenças fortes nem acreditava em reencarnação, mas ela parecia abrigar um espírito muito antigo e devastado por feridas de outra vida. Não eram aceitáveis as expressões de alguém estarem tão desgastadas como as que ela ostentava, aquilo tinha alguma explicação plausível.

Ele até chegou a vê-la em outras oportunidades, em entradas e corredores, algumas vezes até escutou sua voz de longe. Não pestanejava em pensar nisso e fazer conjecturas sobre quem ela realmente era, tão bela e autêntica. Talvez não fosse tudo aquilo que ele imaginava, mas manter essa visão difusa já o fazia sentir-se bem, e isso era o suficiente para fazê-lo sonhar toda noite.

Zeca Lemos



segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Um crítico monólogo




A minha forma de pensar sempre foi bastante aberta. Acredito que isso seja bom, pois o mundo vive em eterna mudança. Posso até parecer beirar a bipolaridade, mas na realidade apenas gosto de experimentar tudo o que os ambientes me propõem, sem medos ou receios.

Sempre tive prazer em sonhar, pois nesse universo existe o que falta na realidade. É difícil descrever a felicidade que sinto ao ter várias vidas pairando na minha mente numa única noite. Pode parecer bizarro, mas ter outra(s) personalidade(s) por algumas horas é uma experiência inigualável.

Ser dessa maneira nos dias de hoje custa um pouco, mas tem um grande valor para quem desfruta. É muito comum associarem introspecção à timidez, mas essa comparação é errônea. Alguém é introspectivo por achar que seus pensamentos merecem atenção, por ter capacidade de chegar a reflexões maravilhosas e relevantes, mas isso não quer dizer que vá desprender-se do mundo exterior nem tornar-se soberbo diante dos outros.

É interessante que a inovação de atitudes e posições seja constante, pois assim vemos que sempre temos algo a aprender e aprimorar, crescendo e evoluindo, o que nos torna racionais por natureza.

Todos querem vencer na vida, surpreender quem os subestima e levantar taças orgulhosos, mas esse sentimento é superficial. Se estamos vencendo para impressionar o outro, deixando em segundo plano o amor próprio, cada vez mais escasso, damos o mais frequente exemplo de opressão. Achamos que estamos próximos de ser livres, mas só ampliamos nossa prisão.

E eu nunca vou deixar ninguém dizer que eu me amo demais por gostar de solidão, pois acredito que ela só é positiva quando sabemos ficar bem em nossa própria companhia. Se podemos entender o outro, por que nos recusamos a nos compreender? Se é possível temer os outros, por que não podemos achar que somos capazes de fazer coisas além do racional? Se qualquer um nos decepciona, por que não podemos falhar? Se vemos ambição nos outros, por que não acreditamos que somos altaneiros? Tenho orgulho de dizer que essas são algumas pautas do eterno monólogo cristalizado dentro de mim, sempre naquela clássica atmosfera de silêncio ensurdecedor que me insinua muita coisa, mas não me diz nada de concreto.



Zeca Lemos