domingo, 6 de setembro de 2015

Tudo incerto




Viu tudo muito tremido. Seria difícil precisar o que exatamente era. O que caracteriza os seres é o que eles sentem, não o que eles demonstram. E, nesse caso, havia uma enorme diferença entre o que se passava dentro e o que era percebido fora. Falar era a tarefa mais rara do cotidiano dela. Por mais que tentasse expor alguma coisa, o que saía era uma gota e o que ficava preso era um mar.

O que mais a agoniava era a sua atitude mental. Porque, quando pensava sobre algo, era impossível retirá-lo da mente. Isso era sua maior tristeza. Uma vez que uma ideia surgia, não saía; e essa era sua prisão perpétua. Toda a melancolia, o medo e a frustração se fundiam, formando a visão de uma adolescente que se espantava diariamente com o mundo.

Partes de seu corpo espiritual desapareciam num instante, sem motivo algum, mas ninguém via isso. Era inacreditável como um ser com tanta beleza podia esconder uma tristeza infinita. Não importava o que houvesse, o fundo da sua alma sempre era preenchido pelo medo. As coisas e os lugares mudavam, mas a sua vontade sempre era a de chorar.

Tentava sair de casa, porém não tinha como. Seu lar era fixo, a escuridão, e não havia nada que se pudesse fazer. O que era vivido fora para o espírito era só o vazio. Nada que o universo mostrava conseguia atingir o sentimento dela. O sentir era homogêneo, completamente reto, sempre estava atrelado ao medo de alguma forma, sempre dormia com o caos do lado.

De vez em quando, tentava mostrar às pessoas o terrorismo que abrigava, mas numa fração de segundos começava a chorar, prevendo que isso nunca ia acontecer. Não havia nada que decifrasse aquilo. O destino não fazia curvas, era sempre um retorno  às origens catastróficas. Tudo só terminaria quando o coração parasse de pulsar, e de alguma forma ela teria que aceitar a realidade do que sempre tinha sido.

Zeca Lemos