sábado, 12 de março de 2016

Liberdade contada

Já fazia um tempo que eu estava me sentindo preso. Não por causa de alguma ocasião desconfortável ou por certo acontecimento, mas porque via que minha alma tava fazendo do meu corpo uma jaula, não um lar. E muitas coisas que podiam me fazer ficar bem pairavam sobre a minha mente, mas, de alguma maneira, eu as bloqueava.
Era incrível como minha cabeça conseguia arranjar um motivo para frear qualquer sonho febril que chegasse à minha nuca. Isso era incomum. Geralmente, as pessoas têm seus desejos retardados por contextos ou por outros, mas quase nunca por si mesmas.
Então, houve um dia que isso acabou. Estava navegando pelas águas do meu oceano mental quando uma ideia surgiu. Logo o medo chegou e tentou erradicá-la, mas teve força para resistir. Era a pretensão de fazer algo criativo para alguém. Uma coisa que achei tão interessante que fiquei vontade de fazê-la como um ato de contribuição ao mundo.
Eu relutei, mas fiz. A ação tinha ligação com um episódio que tinha me feito sorrir muito há mais de um ano. Uma grande amiga minha tinha dito uma palavra que havia me deixado no céu por alguns minutos e eu queria retribuí-la. Pensei bem na palavra proferida e a trouxe para o mundo físico, tentando me enquadrar em algumas obras que já tinha visto em exposições concretistas.
Esperei mais de um mês e fiz o planejado. Fui à casa dela e consegui destroçar minha rotina como tanto queria. Falei algumas coisas e a entreguei, era uma blusa simples. Ela deu aquele sorriso que me matava de felicidade todos os dias e revirou a camisa. Quando viu do que se tratava, começou a falar palavras de agradecimento lentamente. Eram cometários que estavam indo direto para o meu coração.
Eu continuei a tentar falar normalmente, mas meu corpo tinha ficado leve demais. À medida que as sílabas iam sendo pronunciadas, eu me derretia e e me inventava normalmente. Não dá para esconder que a alegria tinha me dominado. A noite ficou infinita quando ela vestiu e me fez ver uma das mais belas imagens que meus olhos tinham enxergado. Era teatral, jornalístico e histórico. Tinha chegado o momento de sorrir sem medo do que iria acontecer quando amanhecesse, porque aquilo bastava para ter certeza que viver tinha um grande valor.
Zeca Lemos