sábado, 2 de janeiro de 2016

O lúcido e embriagado mistério de viver


Outro dia, li no jornal um artigo sobre insônia. Embora esse assunto seja comum no meu cotidiano, a matéria me fez pensar sobre ela por alguns minutos. Começou quando eu involuntariamente repeti a manchete em voz alta algumas vezes. Não passava de uma frase simples: "insônia pode ser o principal sintoma das preocupações humanas ".

Depois de tanto repetir essa afirmativa, as palavras começaram a me chamar a atenção, como se tivessem algo profundo para me dizer. Pensei em coisas que tangenciavam o tema. Minha mente se tornou um campo de pautas. Eram tópicos que eu não costumava refletir, mas pareciam valer horas de atenção.

De repente, vi-me conjecturando possibilidades de histórias que uma pessoa com insônia poderia escrever; imaginando quais seriam os pensamentos utilizados pelo jornalista que assinou o artigo e pesquisando a etimologia dos vocábulos do texto. Como posso não enlouquecer, transformando essas confusões mentais em sentimentos profundos?

Assim como uma música, um artigo jornalístico tem vida própria. Ele pode trazer infinitas interpretações e penetrar em quaisquer mídias. Eu adoro o inalcançável, porque nele as coisas são mais bonitas. Se eu pudesse, viveria no corpo de um aprendiz eternamente, pois nada me fascina mais do que ter em mente que, por mais que eu cresça, sempre haverá algo para eu aprender. 

Enxergo no conhecimento o brilho de uma menina que vejo passar com marcas deixadas pela sua vida. Passar momentos de crise, tentando saber mais, é uma dádiva que muitas pessoas não sabem saborear. São fontes inesgotáveis de análise e aprendizado. Sei que nunca vou compreender tudo o que as maravilhas da vida têm para me falar. Quando eu era mais novo, achava que brinquedos enigmáticos, como um quebra-cabeça, só serviam para me irritar; hoje vejo os meus mistérios como combustíveis para viver. Afinal, quem vive sem aprender não pode dizer com propriedade que nasceu.

Zeca Lemos


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