Toda noite, eu demorava horas para dormir pensando no que eu poderia ter feito para ela naquele dia. O diálogo não fluía, mas eu não me importava. Vê-la, mesmo com raiva, era a maior dádiva que eu poderia ter. Eu tentava iludir-me. mas o momento mais bonito do meu dia era quando pensava nela. Era algo que superava o êxtase de um torcedor ao ver o seu time campeão.
A maior inspiração para os meus mergulhos na arte eram os olhares dela. Eles encerravam tudo que o mundo possuía. Seu sorriso era uma expressão divina, nunca tinha visto de uma boca fazer jorrar tanta dor poética. Bastava ela estar aberta para minha alma encher-se das trevas mais profundas. Eu já tinha visto coisas extraordinárias e feito loucuras nas paredes das ruas, mas nada preenchia o vazio deixado pelos sentimentos que ela me trazia.
É impossível descrever como um som pronunciado por ela lançava meus pensamentos em combate. Uma luta árdua de não saber se alguma reflexão faria real diferença e a cruel incerteza de que desvendar a racionalidade adiantaria alguma coisa. Sempre odiei viver em sombras, mas isso me demonstrou que existem escuridões necessárias para trazer amor ao meu coração. Tudo ficava mais sublime e mais difícil. Os sonhos que eu tinha quando acordava eram tão belos que o mundo se tornava medíocre para sediá-los. Às vezes eram desejos que ao ouvido alheio eram vazios, mas para o meu espírito eram como estar no céu.
Eu ainda me lembro do rosto dela em todos os instantes, acreditando que a força da minha lembrança pudesse trazê-la de volta. Seu jeito me provou que o universo realmente possui algo de infinito a oferecer e que há coisas que nunca existirão dentro de mim. O sentimento não vai parar, jamais vai deixar de me agonizar nas madrugadas de insônia. Cedendo a sua face resplandecente, meu coração me avisa que nasceu uma luz que não vai apagar-se e que, se eu morresse hoje, morreria como o homem mais alegre do mundo.
Zeca Lemos
Parabéns mais uma vez, moleque.
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