quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Algumas ideias




Naquele tempo, eu tinha muitas ideias. Depois de passar alguns dias no meio de multidões, senti o que realmente era a solidão em grupo. Aquela sensação do tudo representar nada pode ser triste, mas vivê-la é imprescindível.

Fazia mais de uma semana que não eu permanecia mais de duas horas em casa. Isso me angustiava um pouco, mas essa situação tinha acontecido de maneira tão rápida que nem me dei conta quando a estava vivendo. Passar madrugadas em lugares povoados com gente vazia era fascinante, nunca tinha visto uma felicidade ilusória que parecesse tão real.

Embriagava-me como se feridas adquiridas durante o dia fossem apagadas. Os bares cheios de pessoas me faziam rir. Os boêmios fantasiavam outra vida naqueles ambientes inexpressivos. Todos se tornavam poços rasos, a tal ponto que uma criança inteligente não teria dificuldade de decifrá-los.

Após conhecer melhor esse mundo, decidi passar um dia sem compromisso em minha casa. Olhei-me no espelho do banheiro e tive vergonha do que vi. Uma barba mal feita e marcas de espinhas figuravam no meu rosto. Tentei corrigir essas minúcias, fazendo uma breve limpeza facial, porém não fiquei satisfeito com o resultado. Mesmo limpa, minha aparência demonstrava que eu era quilo que um dia critiquei.

Resolvi então dormir para tentar aliviar minha tristeza. O sono se estendeu por quase três horas. Quando acordei, senti-me desnorteado. Não sabia ao certo o que fazer. Fui até a geladeira e peguei uma lata de refrigerante. Abri-a, comecei a bebê-la e logo senti que minha face obscura estava me dominando... e que eu podia mudar, se quisesse continuar vivendo com minha real personalidade.

Zeca Lemos




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