domingo, 11 de outubro de 2015

Epifania



Vejo uma beleza infinita. Não sei se acredito que existe ou se a encaro como um futuro percalço. Meu sentimento não para, mas também não tem apoio para se sustentar. A sonoridade produzida pelo baixo da música que toca no momento mexe de alguma forma com meu corpo. A luz é gigante, porém não a enxergo em expansão. Deve ser o que chamam de pintura; o pincel que minha mente representa pinta diversas variáveis sem nexo até chegar a um desenho que brilha.

Penso num conjunto de trechos de frases filosóficas escritas num guardanapo de bar. Sinto na pele o efeito do céu que vi há poucos dias. Nada me fazia mais sorridente do que contar cada estrela como o significado dos segundos importantes para mim. O poço não é tão fundo, e não vai demorar tanto para eu envelhecer. Recordo-me dos meses em que fui dormir, querendo ter paz na minha vida, rezando para que tudo se resolvesse. Na minha concepção, isso me deixaria alegre como uma criança mimada, supondo que chorar resolve tudo.

Quando retorno àquela noite atípica, gravo boa parte das reflexões. Alguns minutos são o bastante para as prioridades dos meus neurônios ficarem desorganizadas. Filme favorito, time do coração, mensagens repetidas, mesa cheia, álcool reverberando no ambiente. Tudo já foi visto e revisto muitas vezes, talvez nem seja preciso reeditar.

A única certeza é a de que não existirá outra oportunidade para escrever uma música ou falar sem saber até quando. Não sei mais o que devo chamar de erro, os conceitos ficam invertidos e a noção de chão e céu é relativa. Não há barulho expressivo ou qualquer alarde, mas meu coração grita, pedindo que a tradução do nada seja logo exposta.

Parece um jogo morno, chegando aos 47 minutos do segundo tempo. Aquela coisa sem sal, que dá a entender ser uma falsa impressão do incrível. A noite vai ficando perto de acabar e eu não consigo ver o que realmente estou sentindo. Sou um telhado de vidro vulnerável, que sobrevive a furacões e tempestades. Vejo-me puro como nunca e constato que não poderia ser mais feliz. Não existiria hora melhor para perceber que a vida não é um jogo de palavras cruzadas, as coisas não se encaixam. A escuridão em mim é plena por essa epifania ter chegado, sobrevoando todos os campos de destruição feitos pelo estrago que faço diariamente. Não há mais luz, invejo quem tem voz para gritar, e a lanterna queimada sangra e suga toda a razão que tenho para me preocupar com algo.

Zeca Lemos


Um comentário:

  1. Amigo , já li o termo "lanterna sangra e suga " em uma letra do Engenheiros do Hawaii...a que se refere isso? AbraçO!

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