quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ela era o caos


Veja-a. Tenta apagar da mente o que viveu. Não enxerga o quão expressivas são suas lembranças. Escuta muito o que é dito e se impressiona com os sons das sílabas proferidas por alguém que propaga algum pensamento negativo. Observa bem, por sentir tanta coisa estar viva e ver tantos momentos serem mortos.
Importa-se muito com o que a chama a atenção por perto e nunca se cansa de se emocionar. Acredita que quaisquer sentimentos não se fecham, apenas congelam. Sua concepção indica que tudo o que respira é recriado diariamente, reformando uma atmosfera que beira um mundo absurdo. Involuntariamente, procura encontrar abrigo e segurança nas pessoas que parecem possuir algo inovador.
Dedica-se ao que realmente importa e nunca se esquece de certos instantes. Para ela, alguns sofrimentos são como doenças terminais. Fica remoendo passagens, como se isso fosse fazer tão bem quanto um grito para o universo, transformando-se numa aberração que parasita as almas. As fronteiras para a existência da expressividade parecem infinitas, o ar a sufoca como se fosse comprimir seu corpo.

Compõe canções na parte mais pura de sua mente, mas procura esquecê-las por sentir que são uma traição ao que sua alma realmente abriga. Seu coração é sua maior virtude e sua maldição mais doentia. Ele palpita, explode, apodrece e renasce em pouco tempo.

Tudo leva a crer que não dá para compreender como funcionam as coisas no seu espírito. É necessário parecer irracional aos outros, porque eles também não entendem a origem de certos pensamentos insanos que povoam seus críticos momentos de loucura. Assim se fazem as coisas, só andam de forma libertina e anarquista, fugindo de qualquer perspectiva coerente ou inteligível. Ela era o caos e sempre seria.

Zeca Lemos


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