terça-feira, 5 de maio de 2015

Fortaleza noturna



Dançava em ritmo frenético no embalo de sua vida. A mistura do acaso com suas paixões era o que gerava sua felicidade ocasional. Aquilo era uma loucura! Solidão em grupo, gritos estridentes, musicalidades confusas, choros. Tudo se encaixava tão perfeitamente que parecia uma confluência.

Era bastante comunicativo e não conseguia ter dificuldade de conversar com ninguém. O sonho de muita gente era um incômodo para ele. Obcecado por conhecimentos, travestido por expectativas e banhado de surpresas constantes. Era como se chovesse todo dia da semana, mas nem sempre era o mesmo líquido que escorria do seu céu. Às vezes, era um sangue azulado disfarçado de água, de vez em quando lágrimas de efusão, mas sempre algo forte.

Pela manhã presenciava chuvas perturbadoras e à tarde um clima pesado o esperava. Diria que era como se fosse uma enxurrada ácida que preenchia seus pensamentos com devaneios loucos. Era uma sensação que queimava seus neurônios, mas não aquecia nem um pouco suas recordações; uma incoerência poética.

Contudo, o mais emblemático ainda viria pela noite. O ambiente noturno propiciava sentimentos que se tornavam crônicos. Berros de insatisfação, feições de incredulidade, reflexões maduras, sadismo exagerado e temores ridículos eram alguns dos elementos que fertilizavam sua mente naquelas horas. Todos condensados no dilema de deixar cair a bomba ou não.

Uma partida, muita vontade. Um desencontro fora do ponto. Uma vitória, uma comemoração. Uma derrota, uma lição. Uma vida, muitas histórias. Um momento, diversas memórias. Um trauma, várias catarses. Uma peça, um sorriso.

Pois é... Acho que ele nunca vai conseguir entender que não pode ser como os outros, que não pode ter uma vida tranquila, que não tem como ignorar sentimentos, que não é possível omitir verdades, que não se pode padronizar características. Por fim, ia levando seu corpo desse jeito, saltitando na Fortaleza noturna, sem ter a menor ideia do que seria o dia de amanhã.

Zeca Lemos



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