quarta-feira, 11 de março de 2015

O amor mais pleno




Havia passado uma semana de eternidades minúsculas, acontecimentos que pensava que nunca iriam acontecer, mas que terminaram por existir. Artifícios minuciosos de pesadelos duradouros, mas enfim efêmeros. Nesse contexto, assim como sempre iriam existir êxtases, o estrago também nunca viria a ter um final. A previsão do destino tendia a ser uma melancolia impossível de dimensionar.

Tentando encontrar um caminho para fazer o melhor todo dia, tudo o que precisava era de alguma coisa para acreditar, mas parecia que crer não era opção, era destino. Era mais uma testemunha do escândalo que estava acontecendo. Sentia-se prisioneiro de um amor impossível, que tinha uma intensidade de impressionar qualquer pessoa.

Era curiosa a forma com ela o fazia sentir-se tão completo e tão vazio, tão sorridente e tão choroso. Tudo o que queria era uma oportunidade de reparar essa relação doentia que controlava seu humor todos os dias. Constituía uma obra de arte que fazia dos seus sonhos o mais pleno paraíso.

O fim dos dias tinha um roteiro escrito de maneira concisa, sempre ele terminava explodindo de raiva ou de tristeza. Era incrível como, mesmo sem alento, ele continuava a acreditar que um dia aquilo se resolveria, porque a maior das ilusões é aquela em que não se está iludido, mas a que se sabe da realidade e se continua a ser auspicioso. Não era autoengano, mas uma ação arbitrária que lhe trazia felicidade.

Uma vez que achava que tinha conquistado algo, logo descobria que aquilo não valia nada para ela. Sentia-se o rei mais feliz do mundo, mas nem ao menos tinha uma coroa. Não, esperar que aquele sonho um dia se realizasse não era masoquismo, aquele estado espiritual ainda não tinha um nome, só o que poderia constatar a respeito dele constituía um negócio tenebroso.

Odiava tanto aquilo! Como tinha mágoa da vida, como odiava derreter-se ao ouvir a voz dela, como tinha desgosto do sentimento de honra em conhecê-la, como havia remorso do que nunca falara para ela! Mas o pior de tudo era nunca conseguir odiá-la, independente de qualquer coisa que ela fizesse. Era um amor incomensurável, que iria ficar preso dentro dele eternamente, por mais que excedesse a capacidade da sua alma. 


Zeca Lemos


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