domingo, 8 de fevereiro de 2015

Nas profundidades do meu mar interior



É difícil expressar o que eu estou sentindo. Sempre me achei uma pessoa um pouco incongruente por dentro. Procuro passar o que tenho de mais bonito, mas meu estado espiritual quase nunca faz jus a essa beleza.

Todos os dias vou aos mesmos lugares, converso com as mesmas pessoas. É até um pouco difícil expressar minha gratidão por ter essa rotina, mas existe algo faltando. O dia sempre termina em um monólogo para encontrar o significado desse vazio.

A repetitividade do meu cotidiano me entristece. Chega um momento que cansa sempre fazer o que já foi testado. Como eu queria me aventurar de maneira promíscua, conseguir orgulhar-me do que eu sou, acordar sorrindo sem motivo!

Lá no fundo estou em constante duelo, travando uma batalha com a escuridão que criei. Toda noite meus demônios são expelidos pela beleza do luar, mas ao amanhecer eles estão de volta. Isso é tão fenomenal, mas tão dilacerante! De tanto pensar, acabei subvertendo a emoção de perder-me no abismo infinito que meu sofrimento constitui.

Já não me atordoo mais em pensar que isso um dia vai ter fim. A sensação que minhas tardes sempre serão tomadas por melancolia se tornou normal. Sempre gostei muito de imaginar minha vida num pano de fundo azul. Uma cor tão bela e diversificada, que sintetiza tudo do que eu quero ser, tudo o que eu sou e também o que eu não sou.

Celeste, anil, turquesa... Tantas variações de uma única cor. O céu, o infinito, tantas manifestações que me fascinam, mas nada como a perfeição do mar; olhar pra ele é sentir como se o amanhã não tivesse que vir. Isso é o que me encanta, me enobrece e me dá prazer por alguns minutos. Não existe nada mais delicioso do que imaginar que eu represento uma estrela na terra que brilha tanto a ponto de iluminar o oceano.

História de uma fusão de sentimentos heterogêneos, monotonia que se mistura com harmonia, frieza que se choca com sentimentalismo; pois meus esforços para lembrar não passam da imensa vontade que eu tenho de esquecer, canalizada de uma forma estranha, condensando tudo o que a vida teve de mais belo a me oferecer.
Acredito que lá nas profundidades do meu mar interior, tudo o que eu tenho é uma fome insaciável. Fome de me satisfazer por completo, fome de vontade de encontrar palavras sólidas, fome de ser importante para alguém. Sei que somente minhas sensações podem fazer de mim o que eu realmente sou.
Zeca Lemos

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