Todos os dias ele vinha ao mesmo lugar. Não sabia ao certo
onde ficava nem conseguia descrever algumas características da localidade, mas
sempre estava lá no fim da tarde para vê-la novamente.
Interessante era a jornada para se chegar até lá. Toda vez era diferente e se dava de maneira inesperada. Andando
tranquilamente, o espaço sobrecarregava sua mente e ele sonhava algumas vidas
dentro de poucos instantes. Seus pulmões se enchiam de ar e ele se sentia preso numa solitária.
Nem o brilho das estrelas que anunciavam a noite conseguia
ofuscar a magia do caminho que ele percorria. Aos poucos, os movimentos do céu
absorviam sua racionalidade e o deixavam vulnerável.
Chegando lá, encontrava-a esperando-o afetuosa, e ele se enchia de medo e aflição, mas também felicidade. Era inacreditável como
tantos sentimentos podiam habitar apenas dois corações em alguns minutos.
Horas e mais horas com os olhos fixos um no outro, encontravam-se sem força para transmitir o clima agradável. Aquele momento não precisava de um acontecimento vigoroso ou de uma
conquista árdua, era infinito por natureza. O cansaço era grande, mas se
apequenava diante da grandeza da passagem.
As constelações estavam em silêncio, mas havia um grito
ecoando na atmosfera. Ruídos belos e complexos! Desafiou a ciência e provou que o ar não era
incolor. Tantas cores podiam representar aquilo: azul de conquista, vermelho
de vigor, verde de esperança, branco de paz, preto de escuridão. Tantos
significados condensados de uma forma tão linda! Nem a luz do sol que anunciava
o amanhecer era tão espontânea quanto aquilo.
Ao fim de mais um exercício diário, pensava
repetidamente o emblemático mantra: sonha para ser auspicioso, luta para ser varonil, grita para expelir demônios, pensa
para unificar visões, enxerga para se apaixonar e acorda para chorar lágrimas
ardentes.
Zeca Lemos
Nenhum comentário:
Postar um comentário