segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Terça-feira de setembro

De manhã, ele já estava desanimado. Era uma terça-feira de setembro comum, daquelas que não costumam despertar sentimento algum. Normalmente, começava os dias com entusiasmo e ia perdendo vontade de viver ao longo do dia. Mas aquele parecia ser totalmente chato. Quando as situações ficavam chatas, tentava dar uma abordagem mais criativa ao contexto.

Viver as coisas era muito complicado, pois a alma dele era bem confusa. Uma parte dela era de historiador, ao passo que quando sabia a época de um acontecimento, viciava-se em contextualizar tudo que teria ocorrido nesse período; outra era de desenhista, uma vez que tinha crises existenciais toda vez que fazia alguma obra de arte.

Mas aquele dia foi diferente. Acordou e não sentiu vontade de viver coisa alguma, e isso durou as 24 horas da ocasião. Não sentia absolutamente nada e não fazia questão de permanecer presente no mundo. Identificou-se como algum daqueles homens solitários de filmes depressivos. O sentimento de desilusão era tão grande que não tinha vontade nem de fazer o que mais tinha prazer: questionar as coisas que haviam em seu interior e se implicar na conjuntura.

Era um estado que parecia formar um nilismo extremo. Totalmente unidimensional e sem cortes, seus sentimentos pareciam ser de alguém calejado das coisas sem nem ter vivido-as. E sentava nos lugares a ficar parado sem falar com ninguém. Era perturbador para qualquer um assistir uma cena daquelas, mas aquela oportunidade era necessária. Só encontrando-se no nível mais devastador da solidão para recordar de todas as situações e acordar no dia seguinte como se aquela terça-feira nunca tivesse havido.

Zeca Lemos


Um comentário:

  1. Zeca, infelizmente (ou não) muitos de nós temos nossos momentos nilistas.
    Excelente texto! Parabéns!

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