Todo
mundo passa boa parte de seu tempo cercado de tabus. O conceito
dessa palavra é bem confuso. Já escutei alguém que a usava para se
referir a um time que não ganha há muitos jogos, outras vezes a ouvi
como se fosse algo que nunca aconteceu. Então, fui pesquisar o
significado no dicionário e logo veio a explicação: “O significado de tabu
geralmente se refere a uma proibição da prática de qualquer
atividade social que seja moral, religiosa ou culturalmente
reprovável". Vi que não conseguiria encontrar um significado
objetivo e resolvi desistir de tentar compreender.
Eu
repetia muito essa palavra, porque sentia que ela se aplicava a
algumas situações que eu vivia. Sempre achei inútil expressar-me, como se fosse obrigado a fazer outras pessoas me
entenderem. Portanto, no mínimo preciso
adequar as palavras ao meu estilo de vida. Eu as emprego quando como eu quero; o que os ouvidos alheios entendem não me interessa.
Todo
dia eu acordava me perguntando como era possível que eu vivesse com tantos
tabus presos em mim. Eram numerosas as coisas
que eu nunca tinha oportunidade de fazer e só as via como representação
do que se mostrava na televisão. E o que mais me incomodava é que
nada tinha hora marcada. A parte do dia que isso vinha nas
minhas lembranças era quando eu colocava uma extensa lista do que "podia
ter sido" para remoer dentro de mim.
Apagar
a luz antes de dormir era só uma forma de sentir na pele que eu era
um frustrado, daqueles que só comem o caroço da fruta. Não era um
incômodo, nem um escândalo, era só eu. A única atitude que
rivalizava com esses tormentos era racionalizar o abstrato, quando
esmiuçava o que não tinha profundidade.
Então, houve um dia em que um dos tabus se despedaçou. Eu tinha saído para um
local sem pretensão de nada, quando uma janela lá
na ponta foi tomada por um feixe de luz convergente. Algo tosco, que eu
até tive o desejo de rejeitar, veio à minha mente. Um
diálogo tomou conta de mim, sem que eu esperasse que algo fosse acontecer.
Uma quebra foi chegando perto, e tudo parecia o roteiro de um
filme inverossímil. Quis desistir do impacto e quase o fiz. Quando estava projetando o mosaico, uma tempestade iniciou a desorganizar os painéis; e tudo foi sendo
demolido peça por peça, Nunca um evento tinha sido tão
tragicamente decepcionante. Era prenúncio do que seriam anos de
lembranças e dezenas de textos sobre frustração.
Ficava remoendo até o osso mais profundo, como se estivesse indo mais
longe que o fundo do poço. Era inimaginável. O mosaico
continuava a se desfigurar, mas agora voltava à sua função. Renascia muito mais completo, sem ordem nem sequência para ter nexo algum. Agora era um caso de poesia. Eu estava quase no chão, prestes a
desmaiar; aí escutei o que ia acontecer. Fechei minha boca, e o mundo explodiu, ressurgindo dentro de alguns segundos.
Nada mais era agoniante, não existia mais nada impossível, e eu
sentia que não era mais o mesmo homem. Um choque de eternidades
havia acontecido, sem possibilidade de ser descrito.
Zeca
Lemos
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