domingo, 28 de junho de 2015

Nirvana



Eu tinha por volta de sete anos quando comecei a ter contatos com jogos; lembro-me de que um dos primeiros foi de futebol (uma edição do brasileirão 2006, salvo engano). Eu jogava esse "game" todo dia, e ele costumava trazer-me muita raiva por conter vários grosseiros erros de fabricação, mas tinha uma música na trilha sonora que chamava muito a atenção. Era algo que eu não distinguia o vocal nem escutava de fato a letra. Acho que exatamente por ser desconhecido é que me fascinava.

Juro que liberei toda a minha energia para conseguir saber qual era a música, mas não consegui. Fiquei frustrado e pensei nisso toda noite, me vendo predestinado àquele sofrimento. Uns seis anos depois, numa viagem à Canoa Quebrada, minha irmã me alertou que estava tocando a música que tanto me agradava.  Empolguei-me e fiquei atento para escutá-la. Era a canção mesmo! Que emoção, quanta emoção! Foi tão incrível que os meus olhos lacrimejaram. Dois minutos depois, a música terminou. As lágrimas se multiplicaram, mas sua causa tinha mudado. Senti que a felicidade de anos atrás tinha chegado até mim, porém minha força não tinha sido o suficiente para agarrá-la.

Passei quase uma hora chorando, sem explicar a ninguém o motivo. Foi horrível, mas foi uma experiência única. Um momento para escrever um daqueles livros melosos. Olhei com todo o ardor  o sonho, mas não podia vê-lo realizar-se. Quando cheguei a casa, senti vontade de não mais viver.

Mais dois anos de agonia por ter uma paixão faminta, mais meses tendo a vida incompleta... Foi em 2014 que minha irmã me chamou. Digitou algo no youtube, algo do tipo "El Bosco - Nirvana". De início, estranhei demais, mas quando o vídeo rodou, fiquei no chão como se aquilo fosse o céu. Era realmente a tão amada música, estranhamente budista e com um clipe fenomenal. Uma vez vi na rua uma pichação que estampava "Onde fica o seu céu?". Foi ali que constatei que o meu céu não era um lugar, meu céu era uma história. Só me lembro de falar algumas palavras mal pronunciadas e gritar um pouco... aquele som me trouxe melhor lembrança da minha vida.

Zeca Lemos




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